OPINIÃO / 4 DE NOVEMBRO DE 2018, 11h07 / SHANNON EBRAHIM, EDITOR DO GRUPO ESTRANGEIRO

Jair Bolsonaro, candidato presidencial do Partido Social Liberal, acena depois de votar nas eleições presidenciais no Rio de Janeiro, (Brasil) no domingo, 28 de outubro de 2018. Bolsonaro está concorrendo contra o candidato esquerdista Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT). (AP Photo / Silvia Izquierdo)
O novo capitão do navio brasileiro, o direitista Jair Bolsonaro, pode muito bem guiar sua embarcação diretamente para fora do porto do BRICS, se a sua retórica for o caminho a ser seguido. Em sua campanha, ele prometeu "libertar o Brasil da ideologia de suas relações internacionais a que submeteu o Brasil nos últimos anos". Bolsonaro pode ser facilmente comparado como uma versão ainda mais sombria de Trump, que está claramente cantando a canção do alter ego de Trump Steve Bannon, que ainda está trabalhando duro, impulsionando as fortunas do alt-right (Direita Alternativa ) global.
Foi realmente desconcertante o fato de Bolsonaro ter vencido as eleições presidenciais do Brasil por uma margem tão decisiva, mesmo com seu discurso de oposição à ideologia do BRICS se fortalecer ao longo das eleições. O BRICS procurou desafiar a hegemonia dos EUA e encontrar parcerias comerciais alternativas e mecanismos de financiamento, e está comprometido com a transformação social. Ter Bolsonaro ocupando uma cadeira do BRICS no próximo ano é semelhante à inserção de Steve Bannon no fórum do BRICS com seu notável fascismo, racismo, xenofobia, misoginia, postura anti-ambiental sino-fóbica e romantismo sobre ditaduras militares.
Como o BRICS seguirá sua agenda política comum sob tais circunstâncias? Ou apenas voltará ao seu foco inicial na promoção de um maior comércio e investimento intra-BRICS?
O BRICS sobreviverá à inclusão do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que vem da extrema direita, com laços de longa data com o neofascismo RSS. Porém, até Modi pensaria duas vezes antes de defender abertamente a tortura, os massacres e a substituição de políticos por generais militares. Isso seria muito extremo para a política dominante da Índia, o que torna ainda mais chocante o fato de o Brasil ter apoiado tal candidato; mesmo com a grande popularidade do ex-presidente de esquerda Luís Inácio Lula da Silva.
O tipo de política externa de Bolsonaro faz com que ele se assemelhe a um candidato da manchúria, ou seja, um político usado como fantoche por outro poder. Tudo o que Steve Bannon impulsionou na Casa Branca em termos de política externa é o que Bolsonaro está gerando – principalmente por sua declaração de que o Brasil deve se engajar na batalha cultural global para restaurar a tradição judaico-cristã alinhando-se com os EUA, Israel e Itália. Dizendo ainda que, o Brasil deve se tornar um baluarte da cristandade judaica contra o comunismo. Essa não foi apenas a visão de mundo da ditadura militar no Brasil, que governou de 1964 a 1985, mas é também a linha atual que Bannon vem promovendo dentro do movimento ocidental de alt-right. Tudo isso é parte integrante da crença fervorosa de Bannon no grande choque de civilizações e na próxima guerra entre a Judaico-Cristandade e os Muçulmanos, assim como a China.
Foi muito estratégico para Bannon orientar Bolsonaro na campanha eleitoral bem-sucedida, dada a importância estratégica do Brasil, e a ameaça que o BRICS representa para a agenda do alt-right. Afinal, o Brasil é o maior país da América Latina, com 40% da população da região e uma fatia quase igual do PIB. O fato de o Brasil ter se juntado ao alt-right foi um grande triunfo para Bannon e suas fortes relações internacionais.
Bolsonaro colocou a si mesmo e, possivelmente, o governo brasileiro em rota de colisão com a China, criticando abertamente o maior parceiro comercial do Brasil e estendendo a mão para Taiwan, Japão e Coréia do Sul em uma visita estratégica à região no ano passado. Ele também disse que decidirá contra os avanços econômicos da China e prefere negociar com os tribunais dos países da OCDE. Pensamentos bem “Trumpianos” se observarmos os discursos de Trump a respeito da China.
Sobre a questão israelense/palestina, Bolsonaro ficou do lado dos pentecostais cristãos pró-sionistas que apóiam fortemente Israel; razão pela qual o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi tão rápido em parabenizá-lo por sua vitória eleitoral. Israel cultiva há muito esse segmento do cristianismo conservador no Brasil, na esperança de mudar a orientação da política externa brasileira.
O governo dos ex-presidentes do Partido dos Trabalhadores, Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, foi extremamente defensor da autodeterminação palestina. Mas Bolsonaro levará a tocha de Trump para Israel - pois já prometeu se retirar do Conselho de Direitos Humanos da ONU e mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Mais recentemente, Bolsonaro anunciou que fechará o escritório de representação palestina no Brasil.
A grande questão agora é: Como o BRICS funcionará sob a liderança de tal líder político em 2019?